sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Nós, os números e as palavras



Prendes-me a um sonho, daqueles eternos e surpreendentes; um sonho onde te preencha o «eu» que te foge do peito. Mas não tenho, presos a mim, esses sonhos para que me possas prender. Apenas tenho simples sonhos, sonhos de esperança, tão inocentes como um olhar de criança; simples sonhos, como simples palavras. E o melhor do amor é que não te importas que eu te diga que não, porque sabes sempre, por ser a sério, que só não te dou aquilo que está para lá de mim. De mim e de toda a vontade que eu tenho de te ver sorrir.
No amor, neste amor, o que mais me completa é saber de mão cheia que somos tão fortes juntos como separados, por nunca esquecermos tudo o que demos num golpe de mágia que nos aproxima a cada instante e nos mantém presos ao coração que bate a dois ritmos. Lá fora há inúmeros perigos que não mostram a cara e eu sei que, por isso mesmo, hesito entre colocar um pé na rua ou agarrar uma das tuas mãos, que nunca me querem deixar partir sem elas e sem ti. Mas é nesse olhar que tu nunca me escondes que sinto mais confiança do que aquela que o vento me leva quando me afasto do que mais me completa: TU.
Amar é recomeçar todos os dias. É uma nova vida que ganha vida em duas mãos entrelaçadas. Duas mãos que mesmo afastadas estão em total confidência. No entanto, ninguém sabe, e este segredo, que não é ocultado de ninguém, é o que está melhor guardado. Não digas a ninguém, mas tu salvas-me a cada instante. Salvas-me de tudo o que é sem cor e sem forma, de tudo o que é triste; salvas-me de não saber o que está diante de mim, pois não há nada pior do que não ver o que os nossos olhos de melhor nos podem dar.
Tu sabes que nunca fui boa com contas, por isso não sei dividir todas as vezes em que fiz do teu olhar o meu espelho, para saber todos os erros que escondo automaticamente, mas também não sei multiplicar todos os segundos de todas as horas em que o teu ombro esquerdo serve de apoio à minha cabeça que se aconchega em ti. Muito menos sei subtrair todos os momentos que preferíamos fazer recuar no tempo para que não acontecessem, porque sei que isso também faz parte do amor. Somente sei somar todos os dias, desde o dia em que te entreguei o meu coração como se fosse teu, até hoje. Por isso, nunca me peças para traduzir todo o nosso amor numa percentagem simplificada, com números reduzidos, no máximo, a duas casas. Sou, toda eu, letras e sabes que só assim me consigo expressar.
A ti entrego todos os números, todas as datas, todos os compassos de tempo contáveis e, para mim, sobram todas as palavras que os descrevem, um a um, com total pormenor e exactidão. Só assim conseguimos construir um mundo que seja a imagem perfeita de todas as folhas em branco que denunciam, eficazmente, a tranquilidade, a doçura, a certeza, a confiança, que preenchem, em prosa e poesia, todas as quadriculas que tu vês e todas as linhas que eu descubro.
Em todos os desejos, em todos os sonhos e em todas as verdades, eu quero mais do que aquilo que sonho e amo mais do que aquilo que desejo. E no fim de contas o que quero, desejo, sonho e amo mais és tu, tal e qual como sempre te vi no presente. O nosso presente é o amor de agora, o amor de ontem ficou no passado e contigo não me prendo às memórias que ficaram para trás, mas parto em busca das que contarão o meu presente e, mais tarde, o meu futuro. O nosso amor é agora, o que passou passou e o que lá vai, lá vai, é assim que me ensinas a viver todos os dias.
O que eu gosto mais no amor é saber que se reparte por todas as letras do teu nome e se desdobra para me envolver a mim, em pedaços independentes e continuamente adaptados a todas as nossas vivências.
Amar é isto mesmo, é compreender em duas mãos fechadas todas as suas divisões. É ter a capacidade de amar todos dias as coisas novas, reduzindo as do dia anterior à sua qualidade de passado que passou. Amar, para mim, é regressar a ti a todos os instantes, é prender-me a ti em todos os teus sonhos, em todos os teus desejos, em todas as tuas certezas e, principalmente, em todas as tuas duvidas. Só assim posso querer (-te), desejar (-te), sonhar (-te) e amar (-te), começando a viver de novo, completando-te enquanto me completas.
É o amor, tão mais forte ou tão mais fraco como a força com que o «nós» se prende aos números e às palavras para se descrever. Mas o melhor do amor é que compreende tudo em si mesmo, seja em números ou em letras, deixando constantes surpresas no amanhã que só quero viver assim.

E tudo isto é o nosso amor!

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